Tenho uma relação íntima com o sol. Imploro para que ele apareça nos finais de semana e peço para que vá embora na segunda cedinho. Preciso dizer que nos últimos dias ele não me deixou dormir bem. Foi então que numa dessas madrugadas, às 04:30h da manhã, acordada pelo sol do verão apressado de Aracaju, li um texto de Bukowski. Um diálogo da filha Lala, 4 anos, com seu pai Duke. Dizia assim:
- O que é aquilo ali?
-Um coco.
-O que tem dentro?
-Um troço branco pra se mastigar.
-Por que que é por dentro?
-Porque todo esse troço branco que a gente mastiga se sente bem ali dentro, no interior da casca.E diz, consigo mesmo, "puxa, que gostoso que tá isso aqui!" .
-Por que que é gostoso?
-Porque sim. Qualquer um acharia. Eu, por exemplo.
-Não acharia, não. Não ia poder dirigir o teu carro ali dentro, nem poder me enxergar. Ou comer presunto com ovo.
-Presunto com ovo não é tudo que existe.
-O que que é tudo que existe, então?
-Sei lá. Pode ser que seja o miolo do sol, puro gelo.
-O MIOLO do SOL...? PURO GELO?
-É.
-Como seria o miolo do sol, se fosse puro gelo?
-Ué, todo mundo pensa que o sol é aquela bola de fogo. E tenho impressão que nenhum cientista vai concordar comigo, mas eu acho que seria assim, óh.
Duke pega um abacate.
-Oba!
-Tá vendo, um abacate é isto aqui: sol gelado. A gente come o sol e depois sai andando por aí. com uma sensação gostosa.
-O sol tá em toda aquela cerveja que tu bebe?
-Tá,sim.
-Dentro de mim também?
-Mais do que em qualquer pessoa que conheço.
-Pois eu acho que tu tem um SOL DESTE TAMANHO dentro de ti!
-Obrigado, meu bem.
Li isso e entendi. Tio Lino comia sol e depois saía andando por aí. Sorte minha encontrar com ele na esquina.
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Um comentário:
sorte a nossa!
Amo todo aquele brilho que ele ainda deixa em nós.
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