ABRE TODAS AS PORTAS
Abre todas as portas: a que conduz ao ouro,
a que leva ao poder, a que esconde o mistério
do amor; a que oculta o segredo insondável
da felicidade, a que te dá a vida
para sempre no gozo de uma visão sublime.
Abre todas as portas sem que pareças curioso
nem dar importância às manchas de sangue
que salpicam os muros das habitações
proibidas, nem às jóias que revestem os tetos,
nem aos lábios que buscam os teus na sombra,
nem a palavra santa que espreita nos umbrais.
Desesperadamente, civilizadamente,
contendo o riso, secando tuas lágrimas,
no limiar do mundo, no fim do caminho,
ouvindo como cantam os rouxinóis,
não duvides, irmão: abre todas as portas.
Mesmo que nada exista dentro.
(de Los mundos y los días, 1998)
Os Trapalhões e o Ayrton Senna tinham horário reservado nos meus domingos de infância. Vibrava, ria, chorava, assistí-los era emoção garantida. Mas foi o Sílvio Santos quem me apresentou a desilusão toda vez que dizia "Que se abram as portas da Esperança" e nada existia dentro. Não, a esperança não podia dar com a cara na porta, os burros n'água.Acho que começou aí a vontade de abrir todas as portas.
Minha esperança está aos cacos. Não encontro a porta que oculta o segredo insondável da felicidade. Enquanto isso contenho o riso, seco as lágrimas desesperadamente, civilizadamente.
Um comentário:
Pode ser que felicidade esteja escondida atrás de uma porta, mas nada resolve procurá-la nas esquinas...
Talvez a sua porta não seja uma porta, quem sabe uma janela.
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