segunda-feira, 26 de março de 2012

O LONGO CAMINHO DO CORAÇÃO FEMININO

Não há como escapar. Eu, fugidia, disfarço, mudo de assunto.Inútil.O assunto da hora é casamento. No almoço de domingo, na hora do cafezinho do trabalho, nas cerimônias religiosas ou não. Passaram as festas de quinze anos, as formaturas, a comemoração do primeiro emprego. O casamento tá na crista da onda, reina sozinho. E como isso me incomoda.
Minha mãe casou três vezes, nenhuma deu certo. Não a culpo pelos meus medos, mas considero ter bastante experiência em separação. Sei a dor de ir embora e ainda mais a de ficar.Procurar o outro pela casa, quase chamar pra ver a matéria na tv, comer ouvindo o barulho da própria mordida. A frase do poetinha " do riso fez-se o pranto", sem dramas, é bem real. Onde havia burburinho, casa cheia, briga pelo controle remoto, há silêncio. Depois de um tempo a gente aprende a viver assim e até gosta, mas não sem dor.
Bem, acho que já é uma boa introdução pra eu dizer o quanto NÃO quero me separar.NÃO, eu não quero. Por isso casar, pra mim, é uma decisão irrecorrível, não dá pra voltar atrás. Não dá pra errar.
Então, sempre que sei do casamento de alguém, ainda que não seja íntimo, pergunto "mas você tem certeza?Como você descobriu que era ele(a)?Quais são os sintomas? Busco, em vão, o caminho mais seguro.
Paguei caro o preço da dúvida, de não decidir no momento certo. Fui incompreendida, a mais complicada, bicho de sete cabeças. Hoje, só hoje, eu prefiro rir com texto do blog do Carpinejar:

"Se você está casado, é um vencedor. Merece cada volta completa na rede. Cada ronco do mate. Sobreviveu a toda a desconfiança feminina, a todos os testes que sua musa impôs a um relacionamento.

A mulher tem um Desenvolvimento de Recursos Humanos na alma para escolher seu par perfeito. Um Hans Christian Andersen introjetado para recrutar parceiros.

Ela não se casa com qualquer um, é uma longa seleção a partir de contos de fadas como A Pequena Sereia, Os Sapatinhos Vermelhos, A Princesa e a Ervilha e A Polegarzinha.

Se usa aliança na mão esquerda, desbancou superstições, crendices e conselhos. Já pode escrever um livro de autoajuda e descrever sua façanha.

Desde os três anos, a mulher responde a enquetes sobre como ser feliz no romance. É veterana no assunto. Seus olhos carregam o pdf da Sabrina (o pretendente pode fazer download no primeiro encontro).

Se você está casado, é um vitorioso. Superou concorrentes desleais e pré-requisitos dificílimos. Escapou das premonições da sogra, que vivia dizendo a sua filha com quem ela poderia se envolver e de quem não deveria nem se aproximar, driblou o olho gordo dos cunhados e do sogro, que tentaram desqualificar a aproximação de ectoplasmas masculinos. Ninguém ajudou a chegar aonde você se encontra, no lado direito ou esquerdo da cama, com direito a um abajur e uma gaveta no criado-mudo.

O matrimônio é uma batalha épica somente igualável à fecundação. No seu percurso até o óvulo, o espermatozoide teve que enfrentar inimigos como os espermicidas e o preservativo, barreiras biológicas como o baixo pH vaginal e glândulas mucosas e vencer a licitação pública de 200 a 500 milhões de espermatozoides.

Em seu caminho ao coração de sua dona, não há moleza. Condicionado a achar a saída do labirinto do mapa astral, convergir com os horóscopos, fechar com o retrato falado da revista Capricho, saciar as sinopses dos filmes favoritos e atender as expectativas das canções de Chico Buarque. Não é tarefa para fracos e pobres de espíritos.

Justifica receber de presente o pay per view da Libertadores.

Escapou da sabatina do Congresso do Amor, resistiu à CPI da Transparência, desmentiu suspeitas durante o namoro, abriu as contas no noivado. Deixou para trás ciganas loucas por um cigarro, e saiu ileso das profecias da cartomante em alguma tenda ou fundos de residência (sua cara-metade ouviu o jeito que você seria no tarô, e cruzou as informações com suas palavras e atitudes minuto a minuto).

Não foi barbada. Sua esposa mantém uma câmera escondida no rosto, confirmando evidências e comparando padrões. Ela não escuta, analisa. Não fala, soluciona. Não esquece, guarda arquivos temporários.

Se você está casado, é um afortunado. Valorize a si mesmo. Ou cumpriu o impossível, ou sua mulher deu cola para você passar na prova e subir ao altar."
Fabrício Carpinejar.

Um comentário:

Mércia disse...

Ter consciência é o primeiro passo...Ahh! Rejeição, abandono, separação..Que são inerentes à existência humana já sabemos, daí como trabalhar isso em nossa própria existência, já vai uma longa distância. Confesso que rejeição, foi minha primeira reação, quando minha mãe me sugeriu fazer análise para tentar "curar" aquilo que eu chamo de "matrimoniofobia". Mas neologismos a parte, hoje entendo um pouco o que ela quis dizer, não é que tenha que ficar "boa" da minha "doença" (nossa, quantas aspas)...O que acontece é que se isso me faz sofrer, se me faz afastar de mim pessoas que quero perto, isso denota que não estou sabendo lidar com minhas emoções, ou mesmo abarrotando meus neurotransmissores das emoções erradas. Já vi em documentários de fontes sérias que isso pode vir a causar malefícios ao meu próprio corpo. Então, neste caso, sim, vale a pena cogitar o tratamento. Mas aos que me conhecem um pouco melhor, estes sabem que prefiro escrever num diário eletrônico, outros preferem fazer isso utilizando um blog, para diferentemente do que o filósofo ensinou, que se deva,sim, falar daquilo que ainda não se superou. Um cheiro e que possamos colher mais flores na caminhada da nossa existÊncia, brigando menos com nosso coração de demorando menos pra curar as marcas dos espinhos!